Enquanto você estava lá

Enquanto você estava lá, sonhando acordada, com o homem da sua vida, enquanto você estava lá pensando na próxima vez que se veriam, ou no que daria de presente, ou sonhando com um futuro juntos, com um felizes para sempre, enquanto digitava uma declaração linda, prestes a joga-la na rede com uma foto de vocês dois, ou quando procurava maneiras de inovar, de satisfazer física e emocionalmente, enquanto você se entregava, suspirava seu nome e chamava por ele em sonhos, em pensamentos, enquanto idealizava o que vocês dois eram um pro outro, enquanto você chorava e tinha noites sem dormir após as brigas...

ELE estava lá, olhando outras garotas, desejando outros corpos, conversando e iludindo várias mulheres, enquanto você estava lá, ele estava em todos os lugares, fazendo e dizendo todas as coisas que te dizia, para outras mulheres, te denegrindo, te desrespeitando, humilhando e te enganando... 
Ele sempre esteve lá, na sua frente um anjo, nas suas costas, seu carrasco.

E você perdoou, acreditou que ele mudou, mas ele ainda mentia.

Então, um dia, você decidiu estar lá, mas não por ele, não pelos dois, mas por você. Você finalmente decidiu estar lá, ali, em qualquer lugar, longe dele, longe das mentiras, da falsidade, da imundície que te roubou tempo, lágrimas, sacrifícios, e o amor que poderia ter sido dado a outra pessoa. 
E não, não houve a feliz e vingativa reviravolta onde ele se arrepende e se dá conta de que você era a mulher certa, porque, afinal, ele nunca se importou, seu sorriso era quente, mas seu coração era frio. 

E você? 
Bem, você nunca esteve melhor. Você nunca foi tão você mesma, e, no fundo, foi mais fácil do que você imaginava. 

Você percebeu que é forte.

Você não precisou que dissessem que a culpa não era sua, que você era bonita, sim, esperta sim, você, apesar de tudo, sabia disso, e garota, não é problema seu se ele não percebeu isso, se ele preferiu a imundície que eram suas mentiras e sua mente.

No fundo, ele te fez um favor ao não se levantar, em não dizer nada, quando você disse que era o fim, naquela tarde de terça, naquele ônibus que chacoalhava na ponte Rio Niterói. Você tropeçou, quase caiu quando se levantou, pra se afastar dele, verdadeiramente, pela primeira vez. 
E descobriu que nem ligou em começar uma nova vida tropeçando, desde que fosse longe dele, longe de tudo que te atrasava. Chorou quando chegou em casa, antes mesmo na verdade, você lembra, mesmo que não queira, que suas lágrimas começaram assim que abriu o portão do condomínio, mas você parou, antes dos soluços, correu pra sua cama e se entregou, a perda, a surpresa de todos aqueles anos terem sido tudo pra você, e nada pra ele, mas depois de alguns minutos, o choro parou, simplesmente do nada, a dor também. 

E ali você soube, foi o início de um novo começo. A angústia se foi depois de algum tempo, o sentimento de que ele e aquela história te pertenciam, também. E o choque. Ele não fazia mais visitas.

E você deixou de estar lá, e começou a estar ali, por você, e mais ninguém. 

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