O direito de escolher o caminho

Todo mundo diz que um dia eu vou querer ser mãe, mas ninguém me perguntou o motivo de eu não querer.
Ser mãe é praticamente pré-requisito pra ser mulher. Dizem que um dia eu vou mudar de ideia, que sou muito nova nos meus 27 anos para saber o que quero. O curioso é que aos doze já diziam que eu era grandinha pra saber o certo e o errado. Aos dezoito eu já tinha que saber a profissão, uma que eu teria que seguir até o fim da vida, e se mudasse no meio do caminho, eu estaria sendo inconsequente por não ir até o fim, por não permanecer em algo que não me fazia feliz. Aos vinte eu já devia planejar onde trabalhar, e ficar lá, pois estabilidade é o que importa... Mas voltando ao tema principal, aos doze, aos dezoito e aos vinte eu já tinha que saber todos os meus passos, ter feito todas as escolhas pro futuro, mas aos vinte e sete eu não sei se quero ser mãe? É curioso, muito curioso que eu tenha poder pra saber umas coisas sobre mim, mas não outras. No entanto, esses estranhos sabem. 

Eu vejo mulheres se despedaçando por seus filhos e achando que isso as completa, que isso faz seu propósito de vida, e elas vivem em função dessa pessoa que elas colocaram no mundo. Pra elas vale mesmo, as torna completas, provavelmente, mas e eu? Tenho que me completar com o mesmo?
Elas dizem que eu não entendo a beleza disso ainda, mas elas, que precisavam gerar um ser humano para se sentirem completas em seu propósito, não conseguem entender que uma mulher, mesmo nova, como elas dizem, se sente completa sendo só dela. Se sente completa mesmo sem ter gerado uma vida, sabem que seu propósito não é esse. Elas não entendem que nem todos têm isso dentro de si. Nem  todos estão dispostos a abrirem mão mão de ser só de si.

Não discrimino mulheres que escolhem ser mães, de modo algum, não é uma crítica a maternidade, mas uma crítica a pressão que elas colocam em nós, mulheres mais novas, ou não, que não querem ser mães. Elas fazem parecer errado querer ser apenas você, sem filhos, sem a bela família que a sociedade aceita ser o padrão. O ideal. O correto. O natural. 
Eu realmente acredito no poder na natureza, no ciclo biológico das criaturas vivas. Mas e se essa é minha natureza? Qual o problema em abraça-la? Só posso abraçar o que a maioria abraçou?

Quando eu finalmente convenço alguém que eu realmente não vou e não quero ser mãe, eu ouço: "Você vai se arrepender quando estiver velha."
É quase uma obrigação gerar um filho, se você não o faz, está destinada ao fracasso como mulher.

A minha vida toda eu tive que ouvir que eu não sei o que é bom pra mim. Tive que ouvir que estou fadada a ceder ao ciclo "natural" da vida, ou então a um futuro de amargura e arrependimento.
Eu me constitui para ser alguém que não vive a vida baseada em paradigmas da sociedade, mas ter que ouvir durante toda a vida que o que você escolheu, que o que você sabe que quer, é errado, cansa. 
Cansa passar a vida ouvindo de pessoas que não estão sob sua pele, que não viveram sua realidade, que não sabem quem você é, que elas têm um jeito melhor de você viver a sua vida.

Eu não quero ser mãe.

E não quero sua opinião sobre o que você acha que eu vou querer. 
Então, respeite uma mulher, ou homem, quando eles disserem que não querem ter filhos. Existem milhões de crianças abandonadas pelo mundo, boa parte delas abandonadas por pessoas que não as queriam. Nenhuma criança merece viver com o peso de ser indesejada. E nenhuma pessoa deve carregar o peso de ter que se tornar uma pessoa que não é por pura pressão da família, amigos ou sociedade. Cada pessoa tem o direito de ser quem é, independentemente se alguém acha que isso vai contra os padrões.

Cada pessoa tem direito de escolher seu caminho.

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