Grito

Eu abro os olhos, vejo o sol. Ele é amarelo, está em um céu azul. Eu abro a janela, sinto o vento. Às vezes ele é quente, as vezes ele é frio. Eu ouço os pássaros, mas logo eles são calados pelos motores e pelas buzinas.

Eu pego meu telefone, esperando que alguém tenha me procurado. Tem muitas notificações. Cento e poucas mensagens, quinze conversas, comentários nas fotos, curtidas nas postagens, alguns rettwites, resposta nos stories. Especialmente aquele que estou de biquíni na praia, olhando pro sol, aquele amarelo que fica num céu azul.

Parece que está todo mundo me vendo. Parece que eu estou vendo o mundo.
Estamos todos tão ligados virtualmente. Tão ligados...
Mas nunca estive tão distante.
Distante de todos, distante de tudo.

Aquela foto que eu estou de biquíni, é um grito. Um grito dizendo: Me notem!
Mas é mesmo?
Eu estava ali fazendo pose?
Ou eu estava olhando aquele céu azul, onde o sol amarelo fica, e pensando qual era meu lugar no mundo?
Acho que nem eu sei dizer.

Sinto que estamos todos gritando, implorando para sermos vistos, implorando para significar algo para alguém, pois não fomos capazes de significarmos para nós mesmos.
Está tudo tão ligado, tudo tão virtual. Tudo muda, tudo se dilui nessa rede, como se fôssemos transcodificados, se é que essa palavra existe, para Bites, para códigos binários, como se fôssemos também resumidos a seres virtuais.

Não sei se alguém sabe quem é ainda, não sei se alguém de fato se conhece.
Ninguém liga para minha foto do céu, das árvores, daquela parede com grafite, daquela explosão de cores que me tocou. Aquelas fotos que tirei pela arte, pelo significado e não pelo status. Ninguém liga pro meu twitte desabafo, ou para o textão suplicante do Facebook.
Ninguém liga se naquela foto de biquíni eu estava tentando passar a mensagem de que meu corpo e minha mente estavam conectados com a natureza, e não com os bites da rede.

Todos querem ser vistos.
Parece que é isso que importa.
Mas se não formos capazes de nos enxergarmos, de nos conectarmos com nosso cerne, de parar de tentarmos nos expor ao mundo apenas para sermos notados... Nenhuma resposta será obtida. Nenhuma voz será ouvida.

Um grito. É isso que estamos fazendo. Gritando pro mundo vir preencher essa dúvida para a pergunta que viemos nos fazendo a milhares de anos:

Qual é o meu lugar no mundo?
Qual é o meu significado?

Não sei se algum dia serei capaz de responder. Se alguém será.

Comentários

Mais lidas